Por quem você usaria meias descombinadas?

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Nesta semana recebi um convite para aderir à campanha do Dia Mundial da Síndrome de Down (21 de março) usando meias de pares diferentes, descombinando, meias coloridas, fora do tradicional. Objetivo? Chamar atenção para o fato de que o diferente também pode ser divertido e que as diferenças não retiram ou sequer diminuem a importância de cada um, ao contrário: nos tornam únicos. Uma celebração da diversidade.

O simbolismo da ação me inspirou para extrapolar a data específica dessa campanha e mapear onde mais o conceito de meias descombinando se aplicaria no nosso dia a dia. A imagem que me veio à mente de um look com minhas meias cringe do Mickey e da Minnie já esbarrou no primeiro ponto: a aparência. Sou da geração X, que herdou um dress code inconsciente perpetuado por gerações que nos impedia de aceitar que o normal deveria ser respeitar e saber conviver com as diferenças, sem julgamentos.

O look diferente, fora do padrão, muitas vezes era a arma escolhida de determinados grupos para se impor pelo choque. E aí o ser diferente excluía. Quem hoje está nas gerações dos 40+ vai lembrar da ameaça que, para nossos pais, os adolescentes cabeludos representavam para filhinhos tradicionais. E os tatuados, então? Aqui, o conceito das meias diferentes segregavam.

Mulheres com mais de 40 anos de minissaia e cabelos compridos “não se davam conta do ridículo que representavam”. A diferença no jeito de vestir, de falar, de gargalhar também funcionava com a lógica das meias coloridas. Só que, ao invés de incluir, discriminavam. Gênero, características físicas, aparência, raça, idade, comportamentos… para cada um, uma escala de julgamento.

Pensando nisso e, depois, projetando o conceito das meias descombinando no mundo da minha filha, que acaba de completar 13 anos, me dá até um certo alívio. Afinal, avançamos. A diversidade é algo cada vez mais, presente no debate, nas imagens dos comerciais da televisão, nas novelas, nas revistas, nas redes sociais.

Cabelos afro, coloridos, piercings, tatuagens, idosos, jovens, negros, brancos, gente que fala alto, que ri alto, cabeludos e cabeludas foram incorporadas ao mundo atual. Não precisam mais chocar para se impor. Mesmo que ainda haja quem olhe pelo canto do olho, quer você aceite ou não, todos conquistam mais e mais espaço. São manifestações da diversidade. E, assim, o diferente vira normal.

Mas onde estão as meias descombinadas desta geração? Talvez seja entender que a proposta da ação tem um simbolismo muito maior do que aceitar a existência. É viver a diferença. Se colocar no lugar do outro e promover a inclusão. Ao usar as meias coloridas, estamos nos dispondo a incluir aquele conceito, aquele público, aquela pessoa. Estamos entendendo que é preciso mais do que dar o convite para ir para a festa. É preciso garantir que todos estejam nas rodas de conversas, tenham espaço de fala e sejam ouvidos, dancem, sejam quem são e tenham as mesmas oportunidades.

Usar as meias descombinando nos permite ir além de aceitar a existência. É aprender a conviver lado a lado. Com isso, acho que devemos usar mais meias coloridas, pares diferentes, independente de datas. Motivos não nos faltam. Afinal, avançamos, mas a diversidade ainda precisa se consolidar. E você, já pensou por quem usaria meias descombinadas?

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